Desenvolver pesquisa, difundir conhecimento e transferir tecnologia para o setor, que é responsável por 8,2% das exportações paulistas e por 45 mil empregos no Estado. Essa é a missão do recém anunciado Centro de Pesquisa Aplicada em Inovação e Sustentabilidade da Citricultura (CPA), lançado em 12/12 em cerimônia no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista, pelo governador Tarcísio de Freitas.
Com sede na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP), o CPA reúne Esalq/USP, Fundecitrus (Fundo de Defesa da Citricultura) e Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e contará com investimento total de R$ 200 milhões nos próximos cinco anos, renováveis por mais cinco. Deste total, R$ 90 milhões serão aportados pelo Fundecitrus e FAPESP e os demais recursos correspondem a contrapartida não financeira, na forma de investimentos em infraestrutura, salários de técnicos, entre itens.
A principal linha de trabalho do CPA será promover a formação de novos grupos de pesquisa e consolidar outros já estabelecidos, visando o controle do greening, particularmente nas áreas de conhecimento ainda não cobertas atualmente.
Para o reitor da Esalq, Carlos Gilberto Carlotti Junior, o projeto mostra como a sinergia entre a universidade, as agências de fomento, as empresas e o governo é fundamental para o desenvolvimento da nossa sociedade. “As universidades, que são tão conhecidas pela população por formar bons profissionais, também são os centros de pesquisa que geram conhecimento, inovação e benefícios não só para o Estado de São Paulo, mas para todo o País. Nesse sentido, temos focado na criação de novos centros de estudos e de parcerias com laboratórios internacionais voltados para temas que são importantes para a sociedade”.
Presente no anúncio do governador Tarcísio, a diretora da Esalq, professora Thais Vieira, falou da importância do CPA. “A importância desse projeto é reunir uma equipe de pesquisadores com competências que se complementam na busca por solução para um problema de alta complexidade. São 75 pesquisadores atuando em parceria interinstitucional, incluindo o setor privado. A citricultura tem grande importância para o Estado e para o país e o avanço do conhecimento é necessário para que todo impacto positivo do setor possa se manter e aumentar”.
O presidente da Fapesp, Marco Antonio Zago, também falou da parceria que resultou na criação do CPA e do valor para a citricultura paulista. “Há um quarto de século, a citricultura paulista foi atacada por uma praga conhecida como amarelinho, que trouxe enorme prejuízo aos citricultures e ao agronegócio do Estado. A Fapesp e a Fundecitrus fizeram então uma aliança, que ficou conhecida no mundo todo porque conseguiu vencer a praga e implantou uma ciência de alta qualidade, baseada no sequenciamento de DNA que hoje serve não só à agricultura, mas também à pecuária e à medicina. E agora, a história vai se repetir mais uma vez”.
Para o governador, a pesquisa que será realizada no CPA vai atender a um tema importante que é combate ao greening. “Essa praga já dizimou a lavoura na Flórida (Estados Unidos) e não podemos e não vamos deixar isso acontecer aqui. A Fapesp e a USP são dois grandes parceiros que fazem a diferença e são um orgulho para o Estado de São Paulo”.
Impactos da doença
Atualmente, o número total de propriedades onde se cultiva citros é quase metade do que havia no período pré-greening. A área de produção de laranja caiu 36,5% e as frutas são produzidas a custos cerca de 20% mais elevados. Levantamentos anuais têm mostrado um aumento dramático nas árvores afetadas pelo greening, de 0,6% em 2008 para 44,4% em 2024, em média. Em algumas regiões tradicionais de cultivo de citros, a incidência da doença ultrapassa 60%. Só em 2024, a incidência de greening é equivalente a 90,7 milhões de árvores que estão irremediavelmente condenadas, tal como as mais de 64 milhões de árvores adicionais eliminadas desde 2004 na tentativa de controlar a doença.
“A doença chama muito atenção pela sua capacidade de impactar, negativamente, a produtividade dos pomares, colocando em risco a sustentabilidade de uma cadeia produtiva. O CPA foi concebido para descobrir caminhos e, muito em breve, oferecer respostas ao manejo mais eficaz da doença. Nosso trabalho terá o foco de atender essa demanda tão importante e minimizar o impacto nas safras”, reforça a pesquisadora Lilian Amorim, pesquisadora da Esalq/USP e diretora do CPA.
Para o diretor-executivo do Fundecitrus, Juliano Ayres, a construção conjunta do CPA é uma conquista de uma frente ampla de trabalho comprometida com o setor. “Estamos no momento de realização de um sonho! O CPA representa a construção conjunta de um projeto que tem um objetivo muito claro, que é promover a sustentabilidade fitossanitária e econômica da citricultura, tão importante para a economia do estado de São Paulo”.
Nas últimas cinco safras de laranja, o greening causou queda prematura de frutos equivalente a 97,2 milhões de caixas, levando a uma perda estimada de US$ 972 milhões de receita. Esse cenário se torna ainda mais grave devido ao crescente aumento da população do inseto vetor nos últimos anos, resultando no incremento de mais de dez vezes de 2019 a 2024, decorrente, entre outros fatores, da seleção de indivíduos resistentes aos inseticidas, antevendo o progresso da disseminação da doença nos próximos anos.
Atuação
As principais linhas de pesquisa acadêmica do CPA envolvem o entendimento das interações patógeno-planta-vetor, com ênfase na histopatologia, fisiologia e metabolismo do hospedeiro (citros), genética da interação planta-patógeno-hospedeiro e consequências das mudanças climáticas. As pesquisas de cunho aplicado englobam o manejo do greening, com ênfase em resistência genética do hospedeiro e em medidas de controle químico, biológico, físico e cultural da bactéria e de seu vetor.
Outra linha aplicada de pesquisa, voltada à mitigação de danos e aumento da produção, dará ênfase ao sistema de produção, nutrição das plantas e redução dos danos, avaliação de perdas, risco de ocorrência da doença e análise econômica das medidas de manejo e seus impactos. No entanto, pesquisas com outros aspectos da cultura poderão ser desenvolvidas no futuro.
Além da Esalq e do Fundecitrus, o centro contará com pesquisadores de outras unidades da USP (Cena, FZEA, FCFRP), UFSCar, Unicamp, Instituto Biológico, Unesp, IAC e Embrapa. Pesquisadores de instituições estrangeiras, como Centro de Cooperação Internacional em Pesquisa Agronômica para o Desenvolvimento - Cirad (França), Conselho Superior de Pesquisas Científicas-CSIC (Espanha), Instituto Andaluz de Pesquisa e Formação Agrária, Pesqueira, Alimentar e da Produção Ecológica-Ifapa (Espanha), Universidade da Flórida (EUA), Universidade da Califórnia (EUA), Departamento de Agricultura e Pesca, Governo de Queensland (Austrália), Universidade de Durham (Inglaterra), Universidade de Cambridge (Inglaterra), Universidade de Warwick (Inglaterra) e Universidade do Algarve (Portugal) também atuarão como colaboradores.
Com informações da Fapesp, Esalq e Fundecitrus, texto de Caio Albuquerque, reportagem de Érika Yamamoto (13/12/2024)